Este sermão foi pregado por Jhon Wesley perante a Universidade de Oxford, em 11 de junho de 1738, dezoito dias depois da experiência consciente de sua nova vida. Consiste ele de três partes: definição da fé, definição da salvação e resposta às objeções.
“Pela graça sois salvos mediante a fé”. (Efésios 2.8)
1. Todas as bênçãos que Deus
comunica ao homem vêm de sua mera graça, munificência ou favor; de sua livre,
imerecida benevolência, representando graça inteiramente espontânea, visto
nenhum direito ter o homem à menor clemência por parte da Divindade. Foi a
livre graça que “formou o homem do pó da terra e nele soprou a alma vivente”,
estampando nessa alma a imagem de Deus e “sujeitando todas as coisas debaixo de
seus pés”. A mesma graça chega até nós, neste dia, traduzindo-se em vida,
respiração e todas as coisas. Nada do que somos, ou possuímos, ou realizamos,
merece o mínimo favor das mãos de Deus. “Todas as nossas obras, ó Deus, tu as
operaste em nós”. Assim, elas são outras tantas manifestações de livre
misericórdia; e, qualquer que seja a justiça que se encontre no homem, ainda
será também uma dádiva de Deus.
2. Com que fará o pecador
propiciação pelo menor de seus pecados? Com suas obras? Não. Ainda que estas
sejam muitas e sejam santas, não lhe pertencem, mas são de Deus. Na verdade
todas essas obras são ímpias e pecaminosas, reclamando nova propiciação.
Somente frutos corrompidos pendem de uma árvore corrupta. E o coração do homem
é ao mesmo tempo corrupto e abominável, estando “desprovido da glória de Deus”—
a justiça gloriosa de inicio impressa em sua alma, segundo a imagem de seu
grande Criador.
Assim, pois, nada tendo, nem
justiça nem obras, que alegar seus lábios inteiramente se calam diante de Deus.
Não se esqueça de “curtir” e deixar o seu comentário.
3. Se o homem pecaminoso acha,
pois, favor à vista de Deus, isto vem a ser “graça sobre graça!” Se Deus ainda
concede que desçam sobre nós outras bênçãos e, ademais, a maior de todas, que é
a salvação, que, podemos dizer a essas coisas, senão repetir: “Graças sejam
dadas a Deus por seu dom inefável!” E assim é. Nisto “Deus recomenda seu amor
para conosco, em que, quando ainda éramos pecadores, Cristo morreu para
salvar-nos. “Pela graça”, pois, “sois salvos mediante a fé”. A graça é a fonte;
a condição é a fé.
Para não decairmos da graça de
Deus, cabe-nos inquirir cuidadosamente:
I. Qual é a fé mediante a qual
somos salvos.
II. Qual é a salvação que é
mediante a fé.
III. Como podemos responder a
certas objeções.
Qual é a fé mediante a qual somos
salvos?
1. Em primeiro lugar, não é
meramente a fé dos pagãos.
Deus exige que o pagão creia que
“Deus existe e que é remunerador dos que o buscam”; que essa procura diligente
se faça, glorificando-o como a Deus, dando-lhe graças por todas as coisas e
praticando cuidadosamente a virtude moral, a justiça, a misericórdia e a
verdade para com seus semelhantes. O grego ou o romano, o cita ou o indiano,
não teria, portanto, nenhuma desculpa se não acreditasse suficientemente nisto:
o Ser e atributos de Deus, o estado futuro de recompensa ou punição e o caráter
obrigatório da virtude moral. Este é simplesmente o credo de um pagão.
2. Não é, também, em segundo
lugar, a fé do demônio, embora ela vá multo além da dos pagãos. O demônio crê
não somente que há um Deus poderoso e sábio, gracioso no recompensar e justo no
punir, mas também crê que Jesus é o Filho de Deus, o Cristo, o Salvador do
mundo. Encontramo-lo, de fato, declarando, em termos categóricos: “Bem sei quem
és: tu és o Santo de Deus” (Lucas 4.34). Nem podemos duvidar de que o infeliz
espírito creia em todas as palavras que saíram dos lábios do Santo e mais em quaisquer
outras que foram escritas pelos homens santos do passado, acerca de dois dos
quais ele fora compelido àquele glorioso testemunho: “Estes homens são servos do
Altíssimo, que vos mostram o caminho da Salvação”. Não é demais, pois, que o
grande inimigo de Deus e dos homens creia e, crendo, estremeça, – que Deus se
manifestou em carne; que “submeterá todos os inimigos debaixo dos pés”; e que “toda
Escritura foi dada por inspiração de Deus”. Até aí vai a fé do demônio.
3. Em terceiro lugar: a fé
mediante a qual somos salvos, no sentido em que a Palavra será mais adiante explanada,
não é meramente a que nutriam os apóstolos, quando Cristo estava ainda sobre a
terra, muito embora nele cressem a ponto “de deixarem tudo para segui-lo”;
embora tivessem já nesse tempo o poder de operar milagres, de “curar todas as
espécies de doença e toda forma de enfermidade”; embora tivessem “poder e
autoridade sobre os demônios”, e, o que vale mais que tudo isso, fossem
enviados por seu Mestre a “pregar o Reino de Deus”.
4. Qual é a fé mediante a qual
somos salvos? Pode-se responder, de modo geral, que é, primeiro, a fé em Cristo:
Cristo e Deus através de Cristo são os próprios fundamentos dessa fé. Nisto se
distingue ela suficientemente, absolutamente, da fé, seja dos antigos ou dos
modernos pagãos. Da fé que possui o demônio ela se distingue por isto: não é
uma coisa meramente especulativa, racional, um assentimento frio e morto, uma
série de ideias que se amontoam na cabeça, mas uma disposição do coração. Por
isso diz a Escritura: “Com o coração o homem crê para a justiça”; e: “se tu confessares
com tua boca o Senhor Jesus, e creres em teu coração que Deus o levantou dentre
os mortos, serás salvo”.
5. Nisto ela difere daquela fé
que os próprios apóstolos nutriam enquanto nosso Senhor estava na terra: reconhece
a necessidade e os méritos de sua morte e o poder de sua ressurreição.
Reconhece sua morte como o único meio suficiente de redimir o homem da morte
eterna, e sua ressurreição como a restauração de todos nós à vida e
imortalidade, tanto mais que ele “foi entregue por nossos pecados e ressurgiu
para nossa justificação”. A fé cristã é, portanto, não só um assentimento a todo
o Evangelho de Cristo, mas também plena confiança no sangue de Cristo;
confiança nos méritos de sua vida, morte e ressurreição; descanso nele como
nossa propiciação e nossa vida, — vida divina que foi dada por nós e vive em
nós; e, em consequência disto, união com ele, adesão à sua pessoa, coma “nossa
sabedoria, justiça, santificação e redenção”, ou, numa palavra, — nossa
Salvação.
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