Escolhas


O vento inquieto soprava em uma tarde quieta. Tranquila. E Sua Majestade apenas a aproveitava para descansar.
Confortavelmente deitado, ele é impelido por uma inquietação comum; e levantando-se, pôs-se a passear no terraço da casa real. Enquanto cruza o espaço, vislumbra um horizonte proibido. Um horizonte que se levantava a semelhança do sol no seu mais profundo fulgor.
O manto real balançava e o coração de Sua Majestade batia acelerado. Era possível ver sua testa ser umedecida pelo suor não proveniente da alta temperatura, mas sim, do seu ardente desejo que se via contrariado por sua serenidade e justiça.
Interpelado pela voz da escolha, ele para, e, apenas observa.
O que ele vê?
“Uma mulher que estava tomando banho... era ela mui formosa” (II Samuel 11.2).


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Assaltado por sua cobiça o rei pergunta: “quem é?”. Os seus súditos respondem:
“É Bate-Seba, filha de Eliã e mulher de Urias, o heteu” (v.v 3).
E como se não bastasse, o Rei enviou “mensageiros que a trouxessem; ela veio, e ele se deitou com ela” (v.v 4). Em seguida a mulher concebeu e mandou dizer ao rei: “Estou grávida”.
Provavelmente você conhece essa história. Se não. Permita-me apresentá-la.
Esse foi um episódio vivido pelo maior Rei que Israel já teve. O mais valente. O mais forte. O mais respeitado. Pelo seu povo. E pelo seu Deus, que chegou a nomeá-lo como: O Homem Segundo o Coração de Deus.
O seu nome?
Davi.
Primeiro: Davi o pastor de ovelhas. Depois: Davi, o matador de gigantes; o valente, o amigo, o adorador, o salmista... O Rei de Israel.
Ele era respeitado por ser um homem capaz de fazer boas escolhas. Mas nesse dia. O seu senso vacilou. Por sua escolha errada ele vivenciou dias amargos. Horríveis.
Diante de um infortúnio o rei ficou desesperado. Sem saber o que fazer, mandou chamar o esposo de Bate-Seba, Urias, que estava pelejando na guerra junto com todo o Israel. Tendo chegado, o rei ordenou que ele fosse para casa, descansasse e se deitasse com sua mulher. Mas a honra de Urias não lhe permitia fazer isso; e inconscientemente ele estragou a louca tentativa do rei de desmanchar seu erro. Vendo que não teria jeito. Davi enviou uma ordem ao capitão do exército israelita.

“Ponde Urias na frente da maior força da peleja; e deixai-o sozinho, para que seja ferido e morra. Tendo, pois, Joabe sitiado a cidade, pôs a Urias no lugar onde sabia que estavam homens valentes” (v.v 15,16).
O que era desejado aconteceu: Urias morreu.
E como se não tivesse consentido em sua morte, e em nada do que havia feito, Davi disse ao mensageiro enviado por Joabe:
“Assim dirás a Joabe: Não pareça isto mal aos teus olhos, pois a espada devora tanto este como aquele; intensifica a tua peleja contra a cidade e derrota-a; e, tu, anima a Joabe” (v.v 25).
“Porém isto que Davi fizera foi mau aos olhos do Senhor” (II Samuel 11.27).
Frequentemente precisamos fazer escolhas. Escolhas importantes. Que alteram ou determinam o rumo das nossas vidas.
Infelizmente nem sempre acertamos. Somos tentados a escolher o pior. E acabamos fazendo aquilo que é “mau aos olhos do Senhor”.
Em um momento conseguimos. Mas na maioria deles não. Sentimo-nos cansados. Incapazes de continuar. Infelizes. Toda a nossa disciplina escoa pelo gueto da fragilidade humana, e nos deparamos constantemente com o fracasso.
E o Senhor lamenta:

“Ah! Se o meu povo me escutasse, se Israel andasse nos meus caminhos!” (Salmos 81.13).
Qual será a escolha certa?
Já se fez essa pergunta?
Eu sim.
Trabalhava como vendedor em um shopping da cidade onde moro, na maior rede de calçados do estado. Carteira assinada. Seis horas por dia. Ganhava muito acima da média para minha idade de dezenove anos. Era perfeito. Esplêndido...
Mas havia um detalhe. Detalhe esse que fizeram toda a diferença. Eu já era um cristão.
E talvez você me pergunte. “O que isso tem a ver com o caso?”
Desde minha conversão, eu sempre priorizei o reino de Deus. Com o passar do tempo, trabalhando lá, olhava para mim mesmo e via mudanças drásticas no meu comportamento. Talvez não afetasse a ninguém mais. Mas em mim era pertinente.
Trabalhar com grande frequência aos sábados e domingos me afastava das viagens missionárias, evangelismos, dos meus irmãos, dos cultos, enfim, pouco a pouco eu fui distanciado pelo secular.
Era um bom vendedor. Mas não podia dizer o mesmo de ser um cristão.
Com o tempo, começou a me fazer muito mal. Sentia-me vazio. A paz estava a quilômetros. Lia a Bíblia, mas, parecia não ser mais a mesma. Só sentia satisfação no trabalho.
Foi então, que minha mãe disse: “Você já caminhou muito até aqui, para pensar em desistir”.
Em um domingo de folga, embarquei em uma viagem missionária. Foi maravilhoso. Era o que eu precisava.
Lembro ainda hoje do que compartilhei com um dos irmãos, sentado na varanda da casa e olhando o azulado e lindo céu: “Eu daria qualquer coisa, para ter isso de volta”. Foi então que percebi que precisava fazer uma escolha.
E fiz. Pedi transferência para uma loja do centro da cidade. Algo que na empresa ninguém havia feito antes mim. Porque lá, eu iria trabalhar mais, e provavelmente ganhar menos.
Foi o que aconteceu. Com o tempo, comecei a me perguntar: “Será que fiz a escolha certa? Será que escolhi bem?”. E o que me atormentava agora, eram os resultados da escolha.
Porque temos tantas dificuldades? Por que somos tão inseguros?
Porque somos frágeis.
Ao contrário do que se tem dito, o ser humano não é Deus. Mas precisa dEle. Não é forte. Mas precisa de Sua força. Não é super-herói, mas necessita de um.
Precisamos de alguém que nos ajude. Quando as lágrimas não são consoladas pela experiência. Quando a carência exige um amigo, e não o conhecimento. Quando o amor pede um parceiro. E não. Uma companhia.
Precisamos de alguém que nos ajude. Apóie.
E para que nós pudéssemos ficar perto de Deus, o Senhor Jesus        fez à maior, e mais nobre das escolhas.

“E o Verbo se fez carne... e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória... glória como do unigênito do Pai” (João 1.14).
Ele não veio em um corpo celestial. Coroas. Espadas. Brilho. Majestade. Não fizeram parte de sua escolha. Poderia fazer se quisesse. Mas não fez. Ele preferiu ficar envolto numa placenta. Se desenvolver dentro de um útero. Crescer. Esperar. Ser alimentado por uma camponesa através do cordão umbilical. “O Verbo se fez carne”.
Não tinha uma mansão. Palácio. Ou castelo. Apesar de ser Ele o responsável pela arquitetura da Terra, e por seus lindos contornos. Poderia ter tido uma, ou várias, se quisesse. Mas não quis. Preferiu dormir e acordar no deserto. Ou dentro de um barco. Preferiu dar moradas as aves dos céus e as raposas do campo, do que a Si próprio. Sua prioridade nunca esteve voltada para Si mesmo. Em lugar do frescor e da adoração do céu. Preferiu suportar o calor do deserto para estar junto às multidões. A vizinhança o conhecia. Na infância, crianças brincaram ao seu lado. Machucou os joelhos. Correu. Se divertiu. Enfim, “habitou entre nós”.
Ao olhar para Ele não se percebia nada de anormal. Não era aparentemente belo. Não impressionava. As mesmas fragilidades. Limitações. Mas... podíamos confiar nEle, porque era “cheio de graça e de verdade”.
Não vimos o Seu reino, mas vimos a Sua glória. Uma glória sem aparência. Uma profunda glória. “Vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai”.


Considerações


A escolha de Jesus foi um reflexo do seu desejo, queria estar perto de nós. E foi o que fez.
Se suas escolhas estão certas?
Estarão. Quando refletirem o desejo de estar perto dEle. Foi o que eu descobri ao pedir transferência do shopping. Essas palavras são um fruto dessa escolha.      
E para encerrar. “O Verbo era Deus” (João 1.1).
A lira cantada. O soneto ditado. O enredo. A canção. O poema... O Verbo. Era Deus. Ele mesmo. Se fez carne. E habitou entre nós.


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